segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Ensaio sobre a cegueira"

Diz o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Acho que hoje, finalmente, entendi o verdadeiro sentido dessa frase. Assisti o tão criticado “Ensaio sobre a cegueira” de Fernando Meirelles. Belo filme. Aliás, deveria comentar aqui sobre os filmes que eu assisto, aí não ficaria tanto tempo sem escrever, já que assisto pelo menos 2 filmes por semana. Tudo bem que nem sempre foi assim, sempre tive preguiça ou faltava tempo ($$) pra alugar, mas como agora temos tv a cabo minha vida melhorou... E o fato de ter um namorado cineasta e cinéfilo (como eu) também ajuda muito.
Pois então, fomos assistir a adaptação do livro do Saramago. É impressionante como existem filmes que te tocam de uma maneira diferente né? Esse foi um deles.
Se ficou com vontade de ver, não crie grandes expectativas, ainda mais se você é uma daquelas pessoas preconceituosas com o cinema nacional. Tudo bem que esse filme é uma co-produção com o Canadá com estrelas “hollywoodianas” falando em inglês, mas o diretor é bem brasileiro, e dá pra perceber. O estilo Fernando Meirelles (que aliás é um grande diretor, podem falar o que for) é bem peculiar. Se quiser assistir esse filme vá ao cinema com a mente bem aberta e receptiva.
Já ouvi falar que ele tá se vendendo fazendo filmes em inglês. Que besteira! O cara é esperto oras. Quando se faz um filme brasileiro, mesmo que com estrelas internacionais, mas falado em inglês, se distribui com muito mais facilidade. Vi uma entrevista que ele deu pra Marília Gabriela e gostei ainda mais do cara. Despretensioso. Assim como o “Ensaio sobre a cegueira”. Despretensioso, mas com toda a pretensão de ser bom. E é.
Esse é um daqueles filmes que te dá um tapa na cara, se você deixa. Eu me deixei estapear e tirei grandes lições dessa história. Imagina? Se de repente as pessoas ficassem cegas? O mundo, como o vemos hoje, iria acabar. E as pessoas ficariam muito mais vulneráveis e ao mesmo tempo seguras na sua intimidade.
Mas uma das melhores coisas foi perceber que a verdadeira feiura, os olhos não conseguem ver.
“Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Se todos fôssemos cegos esse ditado não existiria, porque se pudéssemos enxergar a verdadeira parte feia do outro (que não dá pra ver com os olhos), tenho certeza que também não existiria o amor. Ninguém ama o que é feio. Só aquilo que é bonito. E todo mundo quer ser e mostrar o que é bonito.
O triste é ver que num mundo feito só de aparências, a gente perde muita coisa fazendo esforço pra ver só o que nos parece bonito... Muita coisa passa por nossos olhos e ficamos cegos. Às vezes, tem coisa que salta aos olhos, mas não enxergamos. É triste.
Aliás, sentir tristeza também é feio. Num mundo feito só de aparências, além de ser feio ser feio, gordo e sincero, também é feio ser triste.
Putz... nem sei mais do que eu tô falando. Só sei que esse filme mudou muita coisa aqui dentro. Quando saí do cinema tive a impressão de que o que vi no filme ia acontecer de verdade, que eu iria ver todos ficando cegos. E não é que isso aconteceu mesmo?