quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Museu pra manter viva a memória


Ano de eleição é sempre igual: Os políticos se atacam e os eleitores tentam se lembrar da vida pregressa de seus candidatos. Mas dizem que brasileiro tem memória curta. Prova disso, são políticos envolvidos em escândalos, mas que sempre voltam ao poder.

Outra característica que faz com que o povo brasileiro tenha a fama de esquecer rápido das coisas é que a maioria dos eleitores não se lembra nem em quem votou na última eleição. Pesquisas do IBOPE, de 2008, apontaram que 7 em cada 10 eleitores não se lembram quais foram seus escolhidos nas últimas visitas às urnas.

E pra te ajudar a se lembrar foi criado, pelo Diário do Comércio, o Museu da Corrupção, com um “acervo” dos maiores escândalos brasileiros desde 1960. Segundo o diretor do jornal, criador e responsável pelo projeto, Moisés Rabinovici, a ideia surgiu “a partir da constatação do óbvio: a cada novo escândalo de corrupção que chega aos jornais, o escândalo anterior é sempre relegado ao esquecimento. No Diário do Comércio ficamos incomodados. E esse incômodo foi o embrião do que é hoje o Museu da Corrupção, MuCo”.

Com projeto arquitetônico de Rodrigo de Araújo Moreira, o museu online possui um saguão principal onde você encontra várias salas com alguns clássicos, como o escândalo da família Sarney, o Valerioduto, as acusações contra Paulo Maluf e tantos outros.

O responsável pelo museu conta que a busca por todo material em exposição é feita diariamente e que estão buscando o histórico da corrupção desde o descobrimento do Brasil com os primeiros portugueses. Pra isso eles têm uma pesquisadora que se dedica todo o tempo a essa tarefa.

“O material chega a nós, abundante. Nem dá tempo para pequenas reformas. A garimpagem é diária, e a cada dia acrescentamos mais material ao nosso acervo, como um conta-gotas. Os anos 2000, até hoje, temos completos, atualizados.”, explica Moisés.

O MuCo foi projetado por um arquiteto de verdade, mas existe somente online. No entanto, já aconteceram exposições físicas no Centro Acadêmico XI de Agosto, da escola de Direito da USP, outra em Araçatuba e em Brasília, mês passado, no Tribunal de Contas da União (TCU) durante um seminário realizado para marcar o Dia Mundial de Combate à Corrupção, em 9 de dezembro.

Nesta última exposição o museu estreou sua maquete, feita sob a supervisão do arquiteto Rodrigo Araújo Moreira, autor do projeto arquitetônico do MuCo.


Tudo acaba em pizza?


No museu não poderia faltar a pizzaria, já que a maioria dos casos na política brasileira quase sempre acaba em pizza. No cardápio a pizza Sarney, Banestado, Mensalão, Bingos e outros sabores um tanto quanto indigestos, mas que fazem muito bem pra memória. A pizzaiola é a ex-deputada federal, e atual vereadora de São José dos Campos, Ângela Guadagnin que em março de 2006 protagonizou, no plenário, a dancinha da impunidade para festejar a absolvição de seu colega João Magno, envolvido no esquema do Mensalão.

O mais divertido no museu (seria mais divertido se não fosse verdade) é a loja de souvenirs. À venda: máquina de lavar dinheiro, meia com espaço pra guardar propina, camisa com colarinho branco em tecido superfaturado, passagens aéreas, grampos telefônicos e outras lembrancinhas.

O Museu da Corrupção tem um acervo muito rico e vale a pena a visita. Para Moisés o MuCo apoia o fim da impunidade e “o movimento para que os candidatos a cargos públicos, do vereador ao presidente da República, sejam submetidos ao crivo do ficha limpa, como são os consumidores quando pedem crédito. Político condenado por corrupção não deveria ser elegível, assim conquistando imunidade”.

Mas se você acha que acabou ainda tem a Casa de Ferramentas que te ajuda a chegar ao e-mail ou twitter do seu deputado ou senador pra cobrar aquela promessa feita na época da campanha eleitoral.

O endereço do Museu é: www.muco.com.br ou www.museudacorrupcao.com.br. Visite e divulgue! É seu dever como cidadão não esquecer dos casos que ferem não apenas a imagem do país, mas também o seu bolso.



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Entrevista com a mãe do poeta


"Só as mães são felizes"

          Maria Lúcia Araújo gosta de ser chamada de Lucinha. Essa mulher batalhadora não desistiu mesmo diante de tantos problemas e dificuldades, e tornou-se um exemplo de dedicação e solidariedade. Tive o prazer de entrevistar Lucinha Araújo, mãe de um dos grandes poetas brasileiros e em homenagem a todas as mães, a dica é “Cazuza – O Tempo não Para”, que mostra a trajetória emocionante do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990. O sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas e a coragem de assumir publicamente a Aids. A vida louca, vida breve de um artista para quem o tempo não para.

Como era sua relação com Cazuza? Você se considerava uma super mãe?
Lucinha Araújo: Nossa relação era mais de irmã mais velha com irmão mais jovem do que de mãe para filho, porque nossa diferença de idade era muito pequena. Eu não me considerava uma super mãe, mas todos na família me consideravam, inclusive Cazuza e João, denominação essa que considerava pejorativa. Fui uma mãe como outra qualquer só que todo o meu amor se concentrou numa pessoa só por ele ser filho único. Hoje esse amor se divide entre as crianças da Sociedade Viva Cazuza.

Sua história teve muitas passagens marcantes, pois seu filho costumava viver intensamente. Mas teve alguma situação ou fato, que para você ficou marcado de uma forma difere
nte?
Lucinha: Várias situações marcaram as nossas vidas, aliás, conto todas ou praticamente todas no livro "Cazuza, só as mães são felizes". A que mais me emociona até hoje foi aquela: meses antes de morrer ele me olhou e disse "mãe aconteça o que acontecer eu vou estar sempre perto de você". É isto que sinto 18 anos depois.

Com certeza é muito doloroso para qualquer mãe perder um filho, ainda mais para uma doença como a AIDS. Como você superou sua morte precoce?
Lucinha: Não superei.

Como e quando surgiu a idéia de fundar a Sociedade Viva Cazuza?
Lucinha: A Sociedade Viva Cazuza surgiu de um show que foi feito na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, em outubro de 1990 em homenagem a Cazuza. Os artistas decidiram que a bilheteria do show deveria ser doada para uma instituição que cuidasse de Aids e eu fui escolhida para fazer a doação. Naquela época o Hospital Gaffrée e Guinle era referência em Aids e fui até lá fazer a doação. Qual não foi minha surpresa quando os médicos disseram que não queriam só a doação, mas também meu trabalho.

E quais são as principais ações da instituição? Como ela se mantém e de que forma nossos leitores podem colaborar?
Lucinha: A Sociedade Viva Cazuza mantém três projetos, uma Casa de Apoio Pediátrico que abriga crianças carentes portadoras do vírus da Aids, um Projeto de Adesão ao tratamento onde acompanhamos socialmente mais de 130 pacientes em tratamento ambulatorial em dois hospitais públicos no Rio de Janeiro e um site educativo e informativo sobre Aids no endereço eletrônico : www.hiv.org.br. Sobrevivemos dos direitos autorais de Cazuza, doações, eventos beneficentes e eventuais convênios com órgãos públicos. Quem se interessar em nos ajudar pode fazer um depósito para:
Sociedade Viva Cazuza
Banco Bradesco
Agência 887-7
c/c 26901-8

Você contou suas experiências e fatos marcantes no livro: “Só as Mães São Felizes” da jornalista Regina Echeverria. Depois do livro, o que mudou pra você e qual o exemplo que conseguiu passar?
Lucinha: Ao passar para o papel nossa rica experiência de vida, pensei em ajudar a uma mãe que fosse e qual não foi minha surpresa ao saber que foram vendidos mais de 100 mil exemplares. Quanto a exemplo, não tenho a pretensão de ser exemplo para ninguém.

Esta obra resultou num filme, lançado em 2004 por Sandra Werneck: “Cazuza – O Tempo não Pára”. Obviamente não dá pra retratar uma vida inteira em 98 minutos, mas você acha que o filme foi fiel à sua história?
Lucinha: Concordo que 98 minutos é muito pouco para contar uma história de vida tão intensa. O filme apesar de se basear no livro, claro que não ficou à sua imagem e semelhança, mas foi um filme honesto.

Teve alguma passagem importante que deixou de ser contada?
Lucinha: Sim, a grande importância de Ney Matogrosso na vida de meu filho, tanto pessoal quanto profissional.

Segundo o site do Cazuza seu livro de cabeceira era “A Descoberta do Mundo” de Clarice Lispector. E qual era seu filme preferido?
Lucinha: Sim, Casablanca era um dos seus filmes preferidos tanto que assistiu mais de 25 vezes e sabia os diálogos de cor.



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