quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um pé de cada

Eita lugarzinho cheio de teia de aranha... Puta que la merda! Nunca vi igual. Acho que levei muito a sério esse negócio de museu do post anterior e deixei juntar poeira pra ver se ficava antigo. E ficou!
Mas antes tarde do que cedo não é mesmo? Pra que fazer hoje se podemos deixar pra amanhã? Deus ajuda a quem reza e acende vela. Os últimos serão os primeiros a ficar pra trás. Água mole em pedra dura... Peraí, água mole? Se é mole não serve. A vida é dura pra quem é mole.
E a vida é dura pra quem não é normal.
Ser diferente é muito diferente. E diferente não pode! Diferente é estranho, é anormal, é fora dos padrões. E mais que anormal eu devo ser... Pra sair de casa com um pé de cada sapato.
Bem que eu tento ser normal. Me visto com a moda básica das pessoas normais. Como no fast-food ao lado de pessoas normais. Tomo uma cerveja no boteco com os amigos e me torno campeã do torneio de sinuca (é, que orgulho) como uma pessoa absolutamente normal.
Mas sair de casa com um pé de cada sapato, definitivamente, não é normal. No mínimo, o cidadão que consegue essa proeza tem alzheimer ou sérios problemas de concentração. Confesso que nunca tive problema em me concentrar e tô longe de ter alzheimer.
Mas sim! Saí de casa com um pé de cada sapato. Ou melhor dizendo, chinelinho (coisa de mulherzinha), sandália pros machos!
Explico: me arrumei, como de costume pra ir pra faculdade. Normal. A imagem é de uma pessoa absolutamente normal, tomando banho, escolhendo a roupa, se trocando, penteando os cabelos e colocando um pé de cada chinelo. Pra ver qual ficava melhor com a roupa eleita (mais uma coisa de mulherzinha). Escolhido o calçado, o próximo passo, de uma pessoa normal, seria trocar o pé do sapato preterido e colocar os dois pés do eleito. Certo?
Pois é, aí é que tá. Não sei onde eu falhei!
Terminei de me aprontar, saí me sentindo. Todos olhavam pra mim e eu me achei o último pedaço de filé mignon do açougue pros carnívoros ou a última bolacha do pacote de Calipso pros loucos por Calipso (a bolacha).
Entrei no ônibus, desci do ônibus, caminhei até a estação de trem, entrei na estação, passei por 3 caras que mexeram comigo, o que comprovou minha tese de que naquele dia eu tava abafando, esperei o trem com a segurança e autoestima de uma miss, entrei no trem e sentei.
Cruzei as pernas de maneira muito, mas muito sensual, abri meu livro e comecei meu teatro de garota superculta que gosta muito de ler.
Enfim, quando fui descruzar as pernas (uma delas já estava formigando) e cruzar novamente, obviamente de maneira tão sensual quanto a primeira percebi que estava usando um chinelo de cada tipo. E sim, dava pra reparar muito bem que não faziam parte da mesma caixa de sapato. Eles eram muito diferentes. E diferente não pode! Diferente não é normal e naquele momento me senti uma louca varrida totalmente anormal. Achei que só alguém com alzheimer trocaria as bolas, ou melhor, os sapatos desse jeito.
Dei aquela “fatiada” em volta pra ver se alguém tinha notado meu lapso e um carinha na minha frente só faltava se fundir com o banco, a janela e as partes metálicas do vagão. Percebi que ele estava segurando muito a risada. Coitado! Ele se segurou porque não é cavalheiresco rir de gente anormal. É preconceituoso e politicamente incorreto.
É claro que não iria continuar minha viagem daquela forma. Tudo bem que era véspera de carnaval, época em que se pode tudo, até homem com homem e mulher com mulher, mas eu não estava com humor pra aparecer na faculdade (onde só tem gente normal) com um pé de cada. Coisa de doido.
Desci na próxima estação com a certeza de que o carinha iria se matar de rir quando eu tivesse fora de sua visão, e voltei pra casa. Tentando fundir um pé com o chão, ou abrir um buraco e me enfiar dentro, ou sair gritando pro mundo que sou anormal mesmo, não tenho alzheimer, sou muito centrada, mas sou capaz de sair de casa com um pé de cada sapato sem me importar com os comentários alheios. Ou quase isso.