terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Entrevista com a mãe do poeta


"Só as mães são felizes"

          Maria Lúcia Araújo gosta de ser chamada de Lucinha. Essa mulher batalhadora não desistiu mesmo diante de tantos problemas e dificuldades, e tornou-se um exemplo de dedicação e solidariedade. Tive o prazer de entrevistar Lucinha Araújo, mãe de um dos grandes poetas brasileiros e em homenagem a todas as mães, a dica é “Cazuza – O Tempo não Para”, que mostra a trajetória emocionante do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990. O sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas e a coragem de assumir publicamente a Aids. A vida louca, vida breve de um artista para quem o tempo não para.

Como era sua relação com Cazuza? Você se considerava uma super mãe?
Lucinha Araújo: Nossa relação era mais de irmã mais velha com irmão mais jovem do que de mãe para filho, porque nossa diferença de idade era muito pequena. Eu não me considerava uma super mãe, mas todos na família me consideravam, inclusive Cazuza e João, denominação essa que considerava pejorativa. Fui uma mãe como outra qualquer só que todo o meu amor se concentrou numa pessoa só por ele ser filho único. Hoje esse amor se divide entre as crianças da Sociedade Viva Cazuza.

Sua história teve muitas passagens marcantes, pois seu filho costumava viver intensamente. Mas teve alguma situação ou fato, que para você ficou marcado de uma forma difere
nte?
Lucinha: Várias situações marcaram as nossas vidas, aliás, conto todas ou praticamente todas no livro "Cazuza, só as mães são felizes". A que mais me emociona até hoje foi aquela: meses antes de morrer ele me olhou e disse "mãe aconteça o que acontecer eu vou estar sempre perto de você". É isto que sinto 18 anos depois.

Com certeza é muito doloroso para qualquer mãe perder um filho, ainda mais para uma doença como a AIDS. Como você superou sua morte precoce?
Lucinha: Não superei.

Como e quando surgiu a idéia de fundar a Sociedade Viva Cazuza?
Lucinha: A Sociedade Viva Cazuza surgiu de um show que foi feito na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, em outubro de 1990 em homenagem a Cazuza. Os artistas decidiram que a bilheteria do show deveria ser doada para uma instituição que cuidasse de Aids e eu fui escolhida para fazer a doação. Naquela época o Hospital Gaffrée e Guinle era referência em Aids e fui até lá fazer a doação. Qual não foi minha surpresa quando os médicos disseram que não queriam só a doação, mas também meu trabalho.

E quais são as principais ações da instituição? Como ela se mantém e de que forma nossos leitores podem colaborar?
Lucinha: A Sociedade Viva Cazuza mantém três projetos, uma Casa de Apoio Pediátrico que abriga crianças carentes portadoras do vírus da Aids, um Projeto de Adesão ao tratamento onde acompanhamos socialmente mais de 130 pacientes em tratamento ambulatorial em dois hospitais públicos no Rio de Janeiro e um site educativo e informativo sobre Aids no endereço eletrônico : www.hiv.org.br. Sobrevivemos dos direitos autorais de Cazuza, doações, eventos beneficentes e eventuais convênios com órgãos públicos. Quem se interessar em nos ajudar pode fazer um depósito para:
Sociedade Viva Cazuza
Banco Bradesco
Agência 887-7
c/c 26901-8

Você contou suas experiências e fatos marcantes no livro: “Só as Mães São Felizes” da jornalista Regina Echeverria. Depois do livro, o que mudou pra você e qual o exemplo que conseguiu passar?
Lucinha: Ao passar para o papel nossa rica experiência de vida, pensei em ajudar a uma mãe que fosse e qual não foi minha surpresa ao saber que foram vendidos mais de 100 mil exemplares. Quanto a exemplo, não tenho a pretensão de ser exemplo para ninguém.

Esta obra resultou num filme, lançado em 2004 por Sandra Werneck: “Cazuza – O Tempo não Pára”. Obviamente não dá pra retratar uma vida inteira em 98 minutos, mas você acha que o filme foi fiel à sua história?
Lucinha: Concordo que 98 minutos é muito pouco para contar uma história de vida tão intensa. O filme apesar de se basear no livro, claro que não ficou à sua imagem e semelhança, mas foi um filme honesto.

Teve alguma passagem importante que deixou de ser contada?
Lucinha: Sim, a grande importância de Ney Matogrosso na vida de meu filho, tanto pessoal quanto profissional.

Segundo o site do Cazuza seu livro de cabeceira era “A Descoberta do Mundo” de Clarice Lispector. E qual era seu filme preferido?
Lucinha: Sim, Casablanca era um dos seus filmes preferidos tanto que assistiu mais de 25 vezes e sabia os diálogos de cor.



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